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"Nasci pela Ingazeiras/ Criado no ôco do mundo./ Meus sonhos descendo ladeiras,/ Varando cancelas,/Abrindo porteiras./ Sem ter o espanto da morte/ Nem do ronco do trovão,/ O sul, a sorte, a estrada me seduz./ É ouro, é pó, é ouro em pó que reluz/ É ouro em pó, é ouro em pó./ É ouro em pó que reluz:/ O sul, a sorte, a estrada me seduz"

- Ednardo



quarta-feira, 5 de maio de 2010

pequena história das duas décadas- II

o primeiro foi maquiavel.
também li algo de rousseau, voltaire,
mas enganei poucos com nietzsche.
eu me queria o príncipe,
ou um revolucionário francês.

comecei a ler menos por vontade
que por gostar de fulana –
se quem ela amava lia,
eu também deveria.

mas eu gostava, josé,
eu gostava.
a única pedra em meu sapato
era a ausência,
o chão logo depois do salto,
arco tocando cordas de vento.

e pensar que ela vivia comigo...
pensar que ela me explicava coisas
que nem sequer sabia sentir.

a pedra, no sapato, jogou-se
do pé para o caminho
e saiu pulando pelo calçamento.
os versos ricochetearam nas paredes
e no sino da igreja.
um deles me perfurou o peito.

durante dois segundos fiquei em silêncio
me esvaindo em sentimentos
e visões de antes.
as nuvens passavam rápidas
e tudo ficava distante,
lento e distante.
era a morte?

foi quando.
entraram no peito duas folhas de uma árvore,
dois olhares de uma mulher,
e duas gotas do suor de um roceiro.
dentro, se fez o cimento
e cavou-se o alicerce
onde vou levantando a mim
com os tijolos que consigo queimar
no meio-dia do sol.

foi assim que a poesia entrou nele uma segunda vez,
e é por isso que sua rubrica tem dois pontos –
é o que conta o mito.

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