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"Nasci pela Ingazeiras/ Criado no ôco do mundo./ Meus sonhos descendo ladeiras,/ Varando cancelas,/Abrindo porteiras./ Sem ter o espanto da morte/ Nem do ronco do trovão,/ O sul, a sorte, a estrada me seduz./ É ouro, é pó, é ouro em pó que reluz/ É ouro em pó, é ouro em pó./ É ouro em pó que reluz:/ O sul, a sorte, a estrada me seduz"

- Ednardo



domingo, 29 de julho de 2012

puzzle


querida, na próxima vez
que meus dedos beijarem
os teus dedos abertos
sobre o travesseiro

portarei um elmo,
coberto de esquivas e mistérios,
fingindo não morrer
com o teu quebra-cabeça

quinta-feira, 26 de julho de 2012

da maior importância

quatro mãos


i.
rio: nada.
são paulo: nada.
foto: nada.
poema: nada.

ii.
rio: nademos os dois
são paulo: erro de concordância, concordemos, pois
foto: meu olho que (não) te vê
poema: agora te escreve

terça-feira, 24 de julho de 2012

outra fantasia


há um tempo
que é tempo o bastante
para saber quaisquer coisas
sobre a tua ausência –
essa que quanto mais ela
mais se assemelha
a tua presença.

sei que não morro, nem nada.
passo bem, vivo,
peço fogo a desconhecidos:
paro no sinal.
como três vezes ao dia,
no mínimo.

às vezes, balanço o oceano
e animo as ondas.
ainda acendo o sol com o pouco
fogo de um isqueiro.
picho poemas etéreos no concreto
muro do parlamento.

sem o que é teu –                                                        
vapor de lábios
em meu ouvido,
olhar que se dissolve
em pálpebras,
fantasia de oboés                               
sobre o lençol –
passo quase impune:

a poesia me entrega
sem saber
se me recebes.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

amanha-ser


poema é máquina de fazer doido,
é relógio de distâncias:
quilômetros dentro de milímetros

um poema, o perfume de canela,
é uma fábrica de amanha-seres
e afronta o breu que o erige

não pode ser lago, não quer ser pedra:
lançar-se, fluir em ondas,
sob teus dedos

e caminhar sobre águas
que nem choveram

domingo, 8 de julho de 2012

prometeu III

(em) matéria do desejo que te guardo,
é melhor nem dizer,
trazer comigo. pôr do sol
com olhos fechados.
não ver, negar três vezes –
não dar espaço para sorrisos,
não revelar quantas linhas
são tuas.

matéria do desejo que te guardo:
às vezes, é melhor dar gosto
ao diabo.