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"Nasci pela Ingazeiras/ Criado no ôco do mundo./ Meus sonhos descendo ladeiras,/ Varando cancelas,/Abrindo porteiras./ Sem ter o espanto da morte/ Nem do ronco do trovão,/ O sul, a sorte, a estrada me seduz./ É ouro, é pó, é ouro em pó que reluz/ É ouro em pó, é ouro em pó./ É ouro em pó que reluz:/ O sul, a sorte, a estrada me seduz"

- Ednardo



domingo, 24 de janeiro de 2010

verdades

Se te imagino céu,
teus sinais são estrelas
que se acendem vivas
pelo corpo.
Não desejo que essas estrelas
caiam,
desejo um céu cadente
saindo de si
com dois braços
e uma palavra, talvez.

Se te imagino mar,
tuas ondas são beijos
que escondem mordidas
em si.
Eu busco as conchas na areia
onde, vez por outra,
virá tua voz com a boca,
tu findarás o som
com os dentes.

Se te imagino escuro,
abraço-me com teu vulto
debaixo de alguma árvore
e perco a mão no ar,
e lanço minhas piadas
no ouvido da noite.
Dirás que é tarde,
tomarei o velho caminho
da calçada da fábrica.

Se te imagino metal,
outra vez tomo as bigornas,
durmo ao lado das caldeiras
e protesto contra o patrão.
Não quero trabalhar-te
num mundo que não seja nosso:
entrego o pingente
numa terra mais livre.

Se te imagino como és,
não cabes no corpo que tens,
não sou aquilo que era.
Se te imagino como és,
amiga, eu sou teu
amigo desfilando verdades
que vibram debaixo do teu nome.
Sou teu
cantor, e canto.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

eu te quero escrever um poema,
mas te desejo antes dele.
desejo-te, também,
antes de querer-te.

estás em mim antes das palavras,
antes dos desenhos da cabeça,
e do fogo batendo no peito.

estás em mim
como a essência nas coisas,
como o vôo antes das asas
e como a vida cantando
dentro da vida.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

para ficar ("n")

passarei os olhos
no amor calado,
cá ao lado,
mas que me toma os dedos
e que me cala a voz
e que me queima os olhos.

passarei os dias
sem saber o que dizer,
se disser,
sem saber o que fazer,
se fizer,
sem saber se vou te ver,
se viver,
se vier.

passarei vergonha
de ter essa pedrinha
e não saber a janela
que guarda teu sono.

passarei batom
nas minhas palavras,
perfume nos meus passos.

não permita, Amada,
que eu passe sozinho,
que eu passe fadado
a mais um poema assim:
de noite e cansaço,
de cansaço sem fim.

encontrei esse poema num envelope papel madeira que tenho por cá. nem lembrava dele, mas gostei de cara da simplicidade. mudei algumas coisas: retirei as maiúsculas (menos uma), acrescentei o "('n')"... deixei o essencial e não me preocupei com a métrica: de outra forma, o poema não seria mais o que (eu) era.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

viela

Eu sempre fui menos rua,
mas eu nunca mais viela:

(Procuro o peso do vento
em quilos de liberdade,
com fôrmas que vem do dia
e cores que cem da vida.

E para pesar palavras
Só sei que é preciso pôr
cada semente na boca
e esperar que venha flor.

Fui buscar a poesia
num pântano sei lá onde.
Puxá-la pelas orelhas
Quando de mim se esconde)

Porque eu nunca mais vi ela,
sempre estive mais pra rua.