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"Nasci pela Ingazeiras/ Criado no ôco do mundo./ Meus sonhos descendo ladeiras,/ Varando cancelas,/Abrindo porteiras./ Sem ter o espanto da morte/ Nem do ronco do trovão,/ O sul, a sorte, a estrada me seduz./ É ouro, é pó, é ouro em pó que reluz/ É ouro em pó, é ouro em pó./ É ouro em pó que reluz:/ O sul, a sorte, a estrada me seduz"

- Ednardo



segunda-feira, 3 de maio de 2010

pequena história das duas décadas - I

onde se dizem algumas verdades sobre a vida e ainda algumas trivialidades bestas sobre o poeta e a natureza da poesia, e aí eu duvido muito que alguém se interesse

o escritório tinha paredes cascarentas
e cortei-me várias vezes.
sobre o bureau, papéis, pedras, canetas,
meus braços lendo o livro.

então um livro poderia ser assim,
não falar de répteis, tabuadas?
que é isso que se faz com as palavras?
a última de uma linha
a linha de uma última
se fecham em som, em voz
e surpresa.

vou-me imitando isso
e a professora diz um nome:
“poesia”.
poesia, poesia...
vou repetindo até chegar em casa,
passando por terrenos baldios
e a rua onde seria o cabeleireiro.
poesia, poesia...
baldeiam terrenos com cabelos verdes
por entre o barro vermelho das doze horas
e as casas, casas ainda não feitas,
que escalariam cada palmo do ar
quando eu já me fosse menos novo.
poesia? poesia?

as belas meninas da escola
sabiam o que era “poesia, poesia...”,
mas não era a mesma coisa
para mim e para elas.
semiótica (só em dois mil e oito):
riso é pena ou “gostar”?
eu não amava, eu “gostava”
de fulana, sicrana...

menos cedo,
eu saberia a matéria cheirosa
de que é feito o amor –
fogo de beber com as mãos.
meu coração é meus rins
e o peito, menino, sorri.
passo exalando amor pelas mercearias,
fino vapor verde.

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