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"Nasci pela Ingazeiras/ Criado no ôco do mundo./ Meus sonhos descendo ladeiras,/ Varando cancelas,/Abrindo porteiras./ Sem ter o espanto da morte/ Nem do ronco do trovão,/ O sul, a sorte, a estrada me seduz./ É ouro, é pó, é ouro em pó que reluz/ É ouro em pó, é ouro em pó./ É ouro em pó que reluz:/ O sul, a sorte, a estrada me seduz"

- Ednardo



sexta-feira, 24 de setembro de 2010

casamento castanho

você não saberá da
sorte de fotos, seios, olhares
você não saberá nem
“corte castanho”, “risos solares”

você não saberá me
dizer como a cor parou aqui
você não saberá se
ela veio dos céus, ou de ti...

pois só consigo contar
mostrando teu corpo cheio
dos versos em que te beijo
e você não saberá

terça-feira, 21 de setembro de 2010

riste

os muito alegres que perdoem
a minha tristeza.

estourando rojões
ou queimando a vida
dificilmente descerão do céu
dos risos.

poderão ver de todo
a tristeza da maré em São Luís,
a desolação da ponte em Fortaleza,
a miséria do metrô sobre Recife?

os alegres,
peço que nos perdoem,
que permitam sermos
tristes.

ristes
e rirás por muito tempo,
e penso que rindo tanto
talvez não consigas
ver os dentes da vida
te rindo as gengivas.

o perdão da minha tristeza,
pois só nela sou alegre.

ou farei da alegria
algo sensível como o pão,
sonoro como um beijo,
uma terra de leite e mel –
porque sempre soube ser triste
ao não ter na boca um adorno,
mas um sorriso vivo em riste.

domingo, 19 de setembro de 2010

impreciso

“A verdadeira singularidade feita de delicados contatos, de maravilhosos ajustes com o mundo, não podia ser cumprida por um só lado: a mão estendida deveria receber outra mão, vinda de fora, vinda do outro.”

-Julio Cortázar, O jogo da amarelinha.




Eu preciso aprender certos segredos.
por mais longa que seja a descoberta,
vai deixar maior porção d’eu em mim.

o mistério de fazer o café
e saber a combinação dos goles
com a temperatura de cada verso.

os difíceis pagamentos bancários,
o receio do e-mail a ser escrito
e as mágicas a fazer com o salário.

sei da pobreza dos atos que digo.
é que sua riqueza é toda inversa,
os segredos não são novos planetas...

como pequenos milagres
que crescerão pelos dias
findando n’outro, maior:
isto de ser impreciso.
dentro de si, no escuro,
hastear cada mão n’Outra
como quem descobre o fogo,
ou o Outro.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

catarse

é quando uma faísca
cai no palheiro.

faísca na contramão,
conta à mão do fogo.
queima a folha
com lápis e tudo.

mas deixa o carvão,
deixa a cicatriz ardente,
corpo na mesa –
vão encontrar as marcas.

marcas a mesa com teu fogo,
ou a chama te marca
e .

catar-se,
recolher-se do incêndio
cuidadosamente,
mas tão feliz
em gênero, número e grau,
3°.

catarse.