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"Nasci pela Ingazeiras/ Criado no ôco do mundo./ Meus sonhos descendo ladeiras,/ Varando cancelas,/Abrindo porteiras./ Sem ter o espanto da morte/ Nem do ronco do trovão,/ O sul, a sorte, a estrada me seduz./ É ouro, é pó, é ouro em pó que reluz/ É ouro em pó, é ouro em pó./ É ouro em pó que reluz:/ O sul, a sorte, a estrada me seduz"

- Ednardo



sexta-feira, 23 de julho de 2010

outro bordado

coube bordar
no avesso do conto de reis
não o silêncio dos,
mas o canto de
réus.

pontos verdes flanando
seu caminho de folhas
pelo tecido fácil
do dia.

saber que o bordado muda
por ver que a costura fala.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

kriska

“branca, branca, branca, eu dizia, bela, bela, bela”

branca, mas
uma aquarela no peito:
basta abrires a boca
para as cores florescerem
como em festa delicada.

era noite,
eu pus tua mão na minha
e disse: vem.
vieste, e
teus cabelos, teus lábios, teus seios.

a noite ficou lá fora,
a manhã era uma promessa distante.
juntos, esquecemos o tempo,
mas não por completo:
uma gota no vidro, chuva.

fui descobrindo teu corpo aos poucos
e os segredos doces que são teus,
sinais.
eu não entendia se tocava a ti,
ou se beijava o corpo de uma nuvem
que se movia entre meus dedos; mas

ali sabia, não era mais só.
fechei os olhos, que já não eram meus,
e foi como abrir a vida
para que entrasses,
nuvem ou mulher.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

síndrome trotskista (piada na 3ª internacional)



não é vontade de ter um cavanhaque,
nem de matar os rebeldes de kronstadt,
ou mostrar a barbárie do stalinismo;
mas um receio bobo sobre o alpinismo.

uma homenagem torta a Leon Trotsky

quarta-feira, 14 de julho de 2010

são as bordas

da felicidade, latifúndio,
a parte que me cabe
são as bordas,
são as bordas,
são as...

a terra que queria ver dividida
é a conta menor que tirei em vida;
mas é vazante rica para meu peito
e sobre ela, teimoso, planto morada.

a carne pouca na terra ancha
espera,
esperancha.

deste latifúndio,
a parte que me coube foi a fé,
foi a
fé,
foi a

fé...


livremente inspirado em João Cabral de Melo Neto

segunda-feira, 12 de julho de 2010

conto de reis



Francisco,
suaste teu conto de réis
durante séculos e já não podes
crer nisso,
nesse conto de reis.

se tu Quebrasses
o teto do mundo,
se fizesses o céu em pedaços,
caberia alguma estrela para ti,
Francisco.

já imaginou, homem?
uma estrela inteira para ti!
ganharias uma das três Marias –
ela, tua esposa filha e mãe.

e os cometas,
que estrago fariam nas praças
e nos pátios das fábricas!
quantas torres (outras) derrubariam,
quanto trabalho para teus meninos,
Francisco!

essa terra, Francisco,
essa terra que é da tua cor:
laça a pá com os dedos
e lança o marrom!
Reconstrói o céu, homem!

e espera,
espera que os frutos cairão
num tempo de delicadeza,
Francisco:
cada tarefa da terra e do céu
plantada –
tanta Cana, Jerimum, Tomate, Feijão...

mas
isso tudo
se não creres nesse
conto de reis,
Francisco.


foto de Sebastião Salgado

terça-feira, 6 de julho de 2010

sábado, 3 de julho de 2010

um Ruído

porque meu corpo
quer devorar teu corpo
em silêncio.
porque minha boca
que mastigar tua alma
em silêncio.
porque minha imaginação
veio tragando tua miragem
e encantando-a em versos
de fortaleza até cá
em silêncio.
porque não te amo,
mas te amo
desde que “amor” seja dito
nas bordas de sussurros:
em silêncio,
quase.

2007ou8?/2010

sexta-feira, 2 de julho de 2010

desmatéria

para o Yan

o ponto fundamental
é não confundir
completamente
matéria de poesia com
poesia da matéria –
sim, o é.

qual a matéria,
pergunto,
de uma caixa de fósforos,
uma mesa de bar,
um violão,
um malandro a cantar?

qual a matéria,
pergunto,
do Sérgio Alves marcando
no castelão entupido,
da cachaça na mão,
da alegria por ter ido?

a única matéria que me interessa
é a porção de desmatéria
que subverte a matéria primeira
para florescer algo novo,
poesia.