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"Nasci pela Ingazeiras/ Criado no ôco do mundo./ Meus sonhos descendo ladeiras,/ Varando cancelas,/Abrindo porteiras./ Sem ter o espanto da morte/ Nem do ronco do trovão,/ O sul, a sorte, a estrada me seduz./ É ouro, é pó, é ouro em pó que reluz/ É ouro em pó, é ouro em pó./ É ouro em pó que reluz:/ O sul, a sorte, a estrada me seduz"

- Ednardo



sexta-feira, 27 de abril de 2012

fantasia


um rio de galhos derramados
sobre a água dos riachos,
correndo, se despedindo,
do cume do seio.

seixos e risos:
o rio passa,
seda verde
sobre o corpo.
deslizar-se, deixar-se cair
de ti,
dos teus cachos e coxas
com o estrondo
de uma pena azul
sobre um chão branco.

flautas e fagotes.
teus cabelos saltam da cama
sobre mim. sob as folhas,
um rosto que me vê
entre cílios e terra.

um céu de rios balançando
sob um dia nublado,
sorrindo, arvorecendo,
mistérios assim.



nº6

segunda-feira, 2 de abril de 2012

baralho

o jogo foi jogado, bela,
e não creio que velhas cartas
caiam das mãos das nuvens
para matar tua sede.

embaralhados os dois,
não sei a quantos reis e valetes
está a dama que procuro,
qual outra mão a ganha.

uma caminhada pelas ruas
e os prédios são copas,
as calçadas são espadas
e o ouro que me salva
foge numa esquina.

em jogo jogado, não se ganha,
se vencem os amores,
se vencem as lembranças,
mas não os amanhãs,
instantes de descuido.

e tomei a liberdade de,
em segredo,
mexer nas cartas do baralho,
guardadas entre fotos e poemas
numa gaveta qualquer.

eu lanço mão das palavras –
e não blefo em nenhuma –
esperando, calmamente esperando,
que você pague para ver.