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"Nasci pela Ingazeiras/ Criado no ôco do mundo./ Meus sonhos descendo ladeiras,/ Varando cancelas,/Abrindo porteiras./ Sem ter o espanto da morte/ Nem do ronco do trovão,/ O sul, a sorte, a estrada me seduz./ É ouro, é pó, é ouro em pó que reluz/ É ouro em pó, é ouro em pó./ É ouro em pó que reluz:/ O sul, a sorte, a estrada me seduz"

- Ednardo



segunda-feira, 12 de julho de 2010

conto de reis



Francisco,
suaste teu conto de réis
durante séculos e já não podes
crer nisso,
nesse conto de reis.

se tu Quebrasses
o teto do mundo,
se fizesses o céu em pedaços,
caberia alguma estrela para ti,
Francisco.

já imaginou, homem?
uma estrela inteira para ti!
ganharias uma das três Marias –
ela, tua esposa filha e mãe.

e os cometas,
que estrago fariam nas praças
e nos pátios das fábricas!
quantas torres (outras) derrubariam,
quanto trabalho para teus meninos,
Francisco!

essa terra, Francisco,
essa terra que é da tua cor:
laça a pá com os dedos
e lança o marrom!
Reconstrói o céu, homem!

e espera,
espera que os frutos cairão
num tempo de delicadeza,
Francisco:
cada tarefa da terra e do céu
plantada –
tanta Cana, Jerimum, Tomate, Feijão...

mas
isso tudo
se não creres nesse
conto de reis,
Francisco.


foto de Sebastião Salgado

Um comentário:

  1. uma dessas coisas mais bonitas que a gente tem a oportunidade de ler... parece João Cabral de Melo Neto...

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