subíamos os pés de siriguela
não pelas frutas,
mas pelo prazer aéreo
de subir
tocávamos campainhas
quando não tínhamos motivo
para correr. e corríamos
sem sorrir para trás,
mas para o mundo
que nos esperava na esquina
nuvens de cabelos
rios quando chovia
cicatrizes da guerra em paz
bola nas ruas
pés no muro branco
cavar trincheiras nos quintais
monstros imaginários
pistolas de pressão
ondas tantas de pular
sobremesa escondido
fantasmas nas ruínas
papagaios nas gaiolas
cavalete feito com bananeiras
poesia nas perguntas
baladeiras e bornós
cachoeiras de suor
em que escorria o tempo
para hoje banhar-me
ao fechar os olhos
e soltar os ouvidos
quando os joelhos de duas décadas
sobem ladeiras
quando corto o cabelo
no mesmo lugar
quando diviso pipas
que meu peito não guia
quando me vejo nos tantos espelhos
mundo à fora,
e eu dentro de cada um deles
sendo diverso do que fui,
mas ainda um menino do Brasil
sofrendo outros castigos,
correndo outros caminhos,
descendo outras ladeiras
do mesmo coração de poeta,
que, encantado,
sorri
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