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"Nasci pela Ingazeiras/ Criado no ôco do mundo./ Meus sonhos descendo ladeiras,/ Varando cancelas,/Abrindo porteiras./ Sem ter o espanto da morte/ Nem do ronco do trovão,/ O sul, a sorte, a estrada me seduz./ É ouro, é pó, é ouro em pó que reluz/ É ouro em pó, é ouro em pó./ É ouro em pó que reluz:/ O sul, a sorte, a estrada me seduz"

- Ednardo



segunda-feira, 29 de março de 2010

um mito




II

Eu tenho uma alegria
e ela pode muito bem caber
nesse alpendre improvisado
nessa cadeira de ferro
nesse copo de cerveja.

E é sempre bom lembrar
que um copo alegre
está cheio de mar.

Eu tenho uma alegria,
jangadeiro!
Estoura rojão na praia.
Eu tenho um rojão,
jangadeiro!
Estouro de alegria não basta.

Chuva tece sombras na areia.
A noite cai em gotas
ao som do mar
e à não-luz do céu profundo.
A noite cai dentro dentro de outra noite
maior que outra noite noite,
baú de sóis em férias.

Tanto de cerveja na praia!,
marinheiro,
um menino vem buscar.

Triste alegria,
ó quão dessemelhante!

Caio de costas,
dou de ombros e pulmões à olhos
por outra cerveja,
ma-ri-nhei-ro.

Largo o chapéu e o paletó de linho branco,
cascas felizes,
e entro no mar.

Quem me ensinou a nadar,
Quem me ensinou a nadar,
Foi, jangadeiro, foi, jangadeiro,
Foi nossa mãe Iemanjá!

Eu tenho uma alegria!
As ondas respondem
“xiiii!”
Eu tenho uma alegria...
As ondas escondem,
tem pena de mim.

Marinheiro...

Eu tive uma alegria,
onça pintada no dia.
Eu tive uma alegria,
as coxas moldura da mão.
Eu tive uma alegria,
levanto, dinheiro é facão.

Ai, quando vim da minha terra
despedido da bataia
eu entrei na capital
numa indústria de maia
lá tinha mais um “Patrão”
e vivi pela navaiaiaia.

Escorro entre tropeços e quedas
até o telefone público.
Burguesia, viaturas espreitam-me.
Se segura, malandro,
pra ganhar esse otário tem hora.
Chapéu na cabeça.

A alegria morreu,
o que será de mim?
Manda buscar outra, Maninha,
lá no Piauí.

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