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"Nasci pela Ingazeiras/ Criado no ôco do mundo./ Meus sonhos descendo ladeiras,/ Varando cancelas,/Abrindo porteiras./ Sem ter o espanto da morte/ Nem do ronco do trovão,/ O sul, a sorte, a estrada me seduz./ É ouro, é pó, é ouro em pó que reluz/ É ouro em pó, é ouro em pó./ É ouro em pó que reluz:/ O sul, a sorte, a estrada me seduz"

- Ednardo



segunda-feira, 29 de março de 2010

um mito




I

Tenho uma alegria,
mas não sei qual, nem sei porque.

Se tenho felicidade em mim,
bicho perto de sumir,
vou descendo a ladeira
e sorrio meu melhor chapéu.

Felicidade é onça pintada na rua,
meu chapa:
pode ser que te enriqueça,
pode ser que te devore.
E onça é bicho ligeiro:
corre para longe,
ou vai pegando em cada mão
e felicitando o novo dano
(leva qualquer dos dedos
compra um pedaço d’alma).

Tenho uma alegria
e vou flanando pela rua
por entre casas bares y calles,
coxas coches e cochos.

Dá-me o dom do cantar,
marinheiro,
que eu te ensino a navegar!
Faça o som do flanar
brasileiro
que eu te ensino a versejar!

Retiro o azulejo com cuidado –
não sem nenhuma dor, faca de ponta –
e vou encaixando nas fachadas
corroídas por silenciosa guerra,
descaso.
Meu sorriso fica
nas paredes dos sobrados,
vou correndo atrás dela
e sobram meus rastros.

Havia um céu,
havia um chão...
A via e desconhecia outros
fenômenos naturais bestas
de mais dia menos dia:
zero,
mas fica a felicidade pendendo
para baixo.

Vestido azulejado,
cabeleira voando: “avia!, batuqueiro”.
Sorri por entre vielas velhas e velas
de um velório qualquer
dia desses

Quando eu morrer
eu quero coro e guerra,
quero uma estátua amarela
e praça com o nome dela.

A parede te veste bem, morena.
Teus braços são moldura, meu preto.
Suspiro é paixão ou cansaço, minha nêga?
É cansaço depois da paixão, ligeiro!

Não. Sim. Sobrado abandonado. Sobram beijos, mulato. Meu nome é “Sempre que Quiseres”. Não. Sim. Sim. Na rua perto do porto. Litro de cachaça. Vestido é para tirar pela cabeça. O amarelo tatuou os cabelos. Cama é para ranger. Paixão é para queimar em fogo vivo, vivo!, vivo!, vivo!. Frevo. Sim, Sim!, Sim!, Sim!. Fervo.

Suspiro. Moldura do suspiro, rosto. Moldura do rosto, seio. Moldura do corpo, cama. Moldura da cama, trama. Moldura da trama: São Luís, Fortaleza, Recife...

Chove.
Ela corre para um lado
e eu lado para um corro...
Corrimão no seu corpo,
fio amarelo de gemidos.

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