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"Nasci pela Ingazeiras/ Criado no ôco do mundo./ Meus sonhos descendo ladeiras,/ Varando cancelas,/Abrindo porteiras./ Sem ter o espanto da morte/ Nem do ronco do trovão,/ O sul, a sorte, a estrada me seduz./ É ouro, é pó, é ouro em pó que reluz/ É ouro em pó, é ouro em pó./ É ouro em pó que reluz:/ O sul, a sorte, a estrada me seduz"

- Ednardo



sexta-feira, 2 de março de 2012

toda poesia é estrada

comecei o blog com este poema (de 2009) e achei que deveria repeti-lo agora, nas vésperas de torná-lo carne mais uma vez.


eu parto a mim
mesmo
ao partir.

metade do corpo
num século
metade
n’outro
minha alma pela cordilheira:
um pacífico de frio,
uma américa de sangue.

eu recolho a terra,
guardo num frasco.
misturo com alguns cravos
e cascas de romã,
junto com o hálito do vento,
vento da voz dos teus cabelos,
amiga.
guardo minha essência.

jogo o mundo nas costas e
as costas na carroceria –
em caminhos e caminhões
galopo no dorso
do tempo.

corre, meu mundo,
que meu sonho é minha sela
e na casa dos meus amigos
há água!

anda, velho parceiro,
caminha sempre ao meu lado.
casa tuas mulheres fortes
com meus poemas frágeis.

no meu exílio,
não cabe choro, nem vela,
cabem fitas amarelas,
cabem nerudas na mochila,
cabem piazzollas nos ouvidos,
taças de vinho na língua.
cabe a lembrança de ter vivido
e de viver ainda.
cabe o fardo de saber-se humano
e ter compromisso com a primavera eterna
primavera porteña
depois de uma vida invernal
e do fado de saber-se brasileiro.

no meu exílio,
exilado mas residente,
cabe o beijo
de descobrir-se conterrâneo
de cada pessoa
em cada canto.

entre veredas,
eu me exilo
cantando.

(do "SéculoXXIpoemas")

Um comentário:

  1. Porra, tu é um gênio Luan!
    Cacete, que poema lindo!
    =~~~~
    Parabéns cara! Abração

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