inútil fazer arrodeios,
sair girando feito perus entre “glu-glus”
e suas respectivas cloacas:
somos todos uns artistas brasileiros
ferrados, frustrados, sem dinheiro,
jogados em qualquer bueiro
ou cargo comissionado.
feito a mãe gritando pela casa
entre almoços, vasos e pontas de faca:
“menino, tu faz um arte”.
levamos à sério, não estávamos brincando,
ou estávamos – rimávamos –
e por isso caímos nessa:
em cima das cadeiras, do barro, da tinta.
(o adolescente se aproxima:
“mamãe, eu tenho algo para dizer...”
a mãe imagina os netos que não terá:
“diga, meu filho, tu não me ilude!”
e o rapaz, meio sem jeito:
“mamãe, é que sou ‘cult’...”)
por que não viver da arte?
a arte plebéia de estar entre homens e mulheres
cantando a vida que está e aquela que quiseres.
dar-se ao ofício de correr pernas pelos mundos,
fotografando o que há para ser feito,
cartografando paisagens invisíveis,
cavalgando luas, centopeias estelares
ou qualquer vida – quanta? – que pensares.
(desfazer, despensar:
concretar edifícios linguísticos hermeticamente fechados
por meio de esfinges de hermeneutas franceses
e aqueles dóceis pequenos burgueses
dos romances do século dezenove.
eu só quero uma poética
de qualquer ética achada nos mercados,
de qualquer frase ouvida nas ruas –
desescrever:
mandar pra baixa da égua
uns cabra véi com cara de nada
e uns besta posando de bacana
nuns livro do tempo que o cão era menino)
inútil negar e se trancar em escritórios,
oratórios e banheiros públicos:
somos todos uns artistas brasileiros
sem verba, duros.
quantos livros não foram lidos,
quantos poemas se perderam entre um ofício,
um misto quente de sensações, seios
e propaganda de veículos!
folículos capilares, planos
seres planares ou qualquer coisa que tu
planejares, ares novos, fogos nas narinas,
meninas seminuas na beira de riachos e rimas,
gargalhadas, marmeladas, amadas, nadas...
eu só posso ser tantos:
meus irmãos me multiplicam,
os bem-te-vis me voam,
as tilápias me nadam,
os manoéis me barros.
artistas lascados de todo o Brasil –
cada cerrado e serra,
cada prado e pantanal,
cada sertão e grão seco de terra,
cada floresta, fresta de mar ou rio –,
eu digo, companheiros,
uni-vos.
Muito bom seu blog :D
ResponderExcluirEstou te seguindo, se puder passa no meu blog para conhecer..
Um beijão
Legal! Um poeta precisa de fotografia? Isso é uma provocação...
ResponderExcluirUm poeta precisa de tudo que multiplique a experiência de contato com o outro e com o mesmo - uma cerveja, um café, meio dedo de prosa, a fotografia, etc. Para mim, a fotografia é algo como um hobby e uma forma de invenção e registro. Há braços ;)
ResponderExcluirPois é... quando leio a poesia e quando escrevo a poesia.... quando fotografo e quando sou fotografado... "parece" que tem sempre uma lado mais fácil... pro outro.
ExcluirFoi bom ter encontrado este teu espaço aqui.
Ivanildo