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"Nasci pela Ingazeiras/ Criado no ôco do mundo./ Meus sonhos descendo ladeiras,/ Varando cancelas,/Abrindo porteiras./ Sem ter o espanto da morte/ Nem do ronco do trovão,/ O sul, a sorte, a estrada me seduz./ É ouro, é pó, é ouro em pó que reluz/ É ouro em pó, é ouro em pó./ É ouro em pó que reluz:/ O sul, a sorte, a estrada me seduz"

- Ednardo



segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

avenida cabo branco

de quem viu mais que o mar no mar


não é preciso muito
para tocar com o dedo
essa matéria singela.

mas há que ter um choro
e deixar que os pássaros
voem naturalmente no peito
até perder-se a sua voz
na nossa.

é preciso descer à praia
e banhar os pés na areia,
lavar o rosto nesse vento,
que é o outro nome para
o cheiro das ondas que arrebentam
nos meus braços.

noite sobre os coqueiros,
mas que não seja espessa,
que não seja mais espessa
que a matéria do coração –
o coração de menino
forjado no suor
das ladeiras do Brasil.

da sorte de coisas simples,
há o amor que ser
sensível aos dedos
e pulsar quente
como um segundo núcleo da Terra.
há o amor que ser teu,
querida,
mas há também que mudar
os frutos de mãos
para que doce na voz
de quem faltou,
para que árvore
nos dedos de quem cantou.

não é preciso muito
para tocar com os olhos
essa matéria singela.

é por isso que guardo -
com o punho cerrado
e o peito aberto
às baleias,
às conchas,
aos peixes -
uma sorte de coisas simples
que nascerá já ontem
do ainda não
que hora estoura com as ondas
e um violoncelo
na avenida cabo branco.

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